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25 de jun. de 2011

Folklore - Análise

FOLKLORE
           

            Era uma vez... Doolin
               
Sabe aqueles jogos que poucos conhecem ainda que tenha certo conteúdo para mostrar? Muitos destes, apesar do citado conteúdo, não são realmente bons e, justamente por isso, pouco se ouve dizer. Pois bem, mesmo com seus defeitos, o título desenvolvido pela Game Republic ainda em 2007, quase no início da geração - pelo menos do Playstation 3, na qual foi exclusivamente lançado - possui um grande e delicioso valor artístico, porém desliza em alguns pontos técnicos que, certamente, se não o fizesse, resultaria em um jogo memorável e imperdível para os possuidores do console da Sony.
        
   Como citei brevemente, Folklore possui um aguçado teor artístico. Apresentando ao jogador conceitos ricos e criativos. Tudo no jogo remete a uma espécie de fantasia sombria, um conto de fadas adulto e inteligente. A trama passa-se em Doolin, um pequeno vilarejo localizado na Irlanda, Europa. Embora os habitantes do local neguem sua veracidade, há uma lenda a qual diz que no lugar é permitido aos vivos comunicarem-se com os mortos. O enredo é protagonizado por Ellen, uma adolescente que recebe uma carta de sua falecida mãe, pedindo para que ela vá a Doolin; e, por outro lado, é protagonizado ainda por Keats, um cético, o qual, contraditoriamente, é editor em uma revista sobre ocultismo e é, por fim, levado ao tal vilarejo, depois de receber um pedido de socorro vindo de lá. A narrativa foca os esforços de ambos, a princípio, em descobrir o motivo pela qual foram chamados, entretanto, acabam se envolvendo em uma série de eventos, como assassinatos que voltam a assombrar, da mesma forma que assombraram 17 anos atrás, o vilarejo. Eventos estes que estão, de certa forma, relacionados com o próprio mundo dos mortos, o Netherworld.
         
  A narrativa de Folklore é sem dúvidas seu maior atrativo. Os personagens possuem carisma, além de que todos os conceitos são bem explorados e exibem competentemente seu valor. A trama reserva muitos mistérios e fantasia. 



            Visual
           
    Hoje, é claro que se formos levar em consideração a parte gráfica do título, não iremos nos impressionar. Afinal, como já dito, Folklore foi lançado em 2007. Ou seja, seus gráficos já estão datados se formos compará-lo com outros jogos do mercado. Talvez, mesmo na época, não fossem dos mais impressionantes. Porém, ainda assim, o visual é tecnicamente bonito, o que de fato se sobressai e agrada aos olhos até hoje é com certeza o trabalho artístico apresentado. Os cenários do título são coloridos, repletos de vida e beleza. No jogo, é nos introduzidos a morta e descolorida Doolin e, ironicamente, o vivo e maravilhoso mundo dos mortos. É notável o contraste entre os dois. O Netherworld, por sua vez, é divido em reinos e, em cada um deles, temos um cenário completamente diferente do anterior. Há o reino das fadas, um lugar repleto de flores coloridas que refletem, de acordo com a história, a expectativa que os vivos têm sobre o paraíso. Ainda além, em pleno contraste, temos Warcadia, outro reino, só que este, porém, parece um verdadeiro inferno, coberto por chamas e um tom onipotente de um vermelho, até mesmo nos céus. Um reflexo claro da guerra que lá ocorre, simbolizando a visão que o homem moderno tem sobre o mundo dos mortos. Os ambientes por mais que tropecem em uma ou outra textura são bem construídos. Os Folks, as criaturas que habitam os reinos do Netherworld, são igualmente bonitos e criativos. Ainda que, entre eles, um ou outro modelo se repita, há mesmo com isso uma variedade enorme. Os personagens, concluindo, também são bem moldados, além de que, os visuais dos protagonistas trazem um conceito interessante, sobretudo os da Ellen.






Gameplay, experiência de jogo


            Os já mencionados Folks são, na verdade, os inimigos que o jogador irá encontrar durante seu progresso e, provavelmente, a parte mais interessante de Folklore. Existem diversos Folks e cada qual com sua habilidade e elemento específico. Embora não seja original, o interessante é que tais criaturas, quando derrotadas, podem ser usadas pelo jogador. Depois de muito apanharem, elas ficam fracas, apertando o R1 e depois fazendo um movimento com o controle, utilizando, logo, o SIXAXIS é possível capturá-las e vale a ressalta de que os golpes dos personagens só irão se basear nos das Folks, ou seja, não existe nenhum comando padrão de ataque e defesa para os personagens, caso não estejam equipados com algum Folk do tipo. Estas podem ser equipadas quatro de uma vez, cada uma correspondente a um dos quatro botões principais de ação do controle - quadrado, triângulo, circulo (alguém quer tentar escrever “X”, hehe). As variações de uso são divertidas. Vão do básico, apenas dar um tranco no controle, puxando para trás, até mais dinâmicas: ter que ficar levando o controle de um lado para o outro. A idéia é boa e funciona muito bem, sem exigir um grande esforço do jogador para não cansá-lo. Há Folks fundamentais para se passar determinadas partes, no confronto contra chefes, por exemplo. Sem contar que, é possível aumentar o valor das criaturas (dano; quantidade de Hits; redução de MC, preço para utilizá-las) cumprindo alguma tarefa específica, como derrotar 10 inimigos com aquele Folk, capturar certa quantidade de outro e por aí vai. Embora seja interessante, não há uma grande variação nisto, ou seja, no fim, pode se tornar um pouco chato evoluir certas criaturas por estas, no fim das contas, terem que realizar as mesmas tarefas de outras. De qualquer forma, é uma idéia que funciona já que, de tal modo, o jogador acaba variando o uso de suas criaturas.

            Uma ressalta negativa deve-se ao manuseio dos personagens. Eles são um pouco travados. É claro que, sendo assim, o ritmo do jogo não é rápido, portanto, não é realmente este o problema. O chato é o fato dos golpes serem dados de forma linear, todos os Folks têm praticamente este trajeto, ou seja, o jogador se sentirá obrigo a alinhar corretamente o personagem, frente a frente ao inimigo, para acertá-lo. Isto é realmente incômodo (principalmente quando seu Folk lança projétil) e nem mesmo o sistema Lock-on ajuda.

            O jogo traz idéias bem distintas no Netherworld e em Doolin. A primeira é a mais fundamental, afinal, lá ocorre o confronto contra os Folks e, além, é onde centra-se a exploração, tanto com Ellen, quanto com Keats. Já, por outro lado, o vilarejo volta-se inteiramente para investigação. O jogador deve apenas conversar com determinado personagem, seguir para algum lugar etc. Não há muita interação durante tais momentos, o que pode torná-los monótonos. Ainda que, porém, sejam fundamentais para a trama, além de que, o contraste entre Doolin e os reinos do mundo dos mortos acabam criando certa dinâmica. O título é dividido por capítulos e, no inicio de cada um, é possível escolher com qual personagem jogar. A perspectiva do enredo é diferente para cada um deles, todavia ambos conversarão com praticamente os mesmo NPCs e, o pior, visitarão basicamente o mesmo cenário e capturarão as mesmas Folks! Sim, sim, como deve ter pensado: isso realmente torna o jogo repetitivo. E vale ressaltar, você será obrigado a jogar com ambos os personagens no fim das contas para poder concluir o jogo. Na verdade, até há uma variedade pequeníssima de Folks entre Ellen e Keats e, aqueles que são iguais entre os mesmos, possuem ataques diferentes, sem contar que as tarefas para evoluir os monstros são diferentes para cada um, há inclusive uma transformação para o jornalista, que aumenta seu poder por um tempo, enquanto que, em contra partida, para a moça há o sistema de Cloaks, roupas que dão a ela algum estado de imunidade, como redução de dano em golpes de determinado atributo, a exemplo - sem contar que o visual delas são bacanas. Porém, mesmo desta forma, a diferença de se jogar com um e com outro ainda permanece sutil e, em alguns momentos, consequentemente, maçante. Os personagens também possuem níveis que podem ser obtidos conforme derrotam e capturam Folks. Em geral, aumentar o nível dos personagens apenas incrementa o valor total do HP.

            Há, conforme o progresso do jogador, missões paralelas a serem feitas (Quests). Concluindo-as é possível adquirir desde Folks e itens que serão utilizados para aumentar o valor dos mesmos. De modo geral, provavelmente fazer as quests com todos os personagens pode adicionar certa durabilidade ao título, porém, os objetivos de tais missões são normalmente bem simples e só farão o jogador revisitar certos cenários novamente.

Áudio

            A trilha sonora do título é realmente muito boa e naturalmente bem encaixada, majoritariamente, com composições instrumentais. As vozes dos personagens também são igualmente boas, porém, aqui está outro grande problema: Folklore quase não conta com dublagem. As animações do jogo dividem-se em CG’s e até outras com gráficos in-game, todas estas são normalmente dubladas, entretanto, a grande maioria das cenas é contada em uma espécie de histórias em quadrinho. Só há balões em tais cenas. Não existe dublagem alguma. É realmente decepcionante para um jogo de Playstation 3 - e o mesmo problema persiste nos diálogos padrões durante o jogo, fora das animações.

Conclusão

            Folklore é, sem dúvidas, um jogo muito bonito. Possui um valor artístico considerável, além de boas idéias em sua mecânica. No geral, tais idéias funcionam bem, porém, não conseguem livrar o título da repetição. O que, provavelmente, impulsionará o jogador a seguir em frente, é o enredo, bem construído e envolvente. A Game Republic poderia ter caprichado mais em alguns aspectos, como a parte sonora, por exemplo, que não é totalmente dublada. Aqueles que conseguirem deixar certos problemas de lado, se divertirão jogando-o em suas longas 15 horas, ou mais, caso o jogador aventure-se a caçar todos os Folkse cumprir todas as missões paralelas.

Visual - 80
Gameplay - 75
Áudio - 80
Enredo - 90

Geral - 80 (ÓTIMO)